Há cerca de um ano escrevia por aqui que voz amiga me havia dito que lhe fazia impressão Catarina Miranda, ou seja Emmy Curl, não ser mais conhecida, sendo que ao longo de alguns anos foi mostrando que é multifacetada, compondo, interpretando, estetizando, mostrando saber como é possível criar imaginários tão mais cosmopolitas quanto mais tradicionais forem. Fui ouvir com atenção, dei-lhe razão, mas estava à espera do novo álbum para a prova definitiva. E a partir de hoje já não existem desculpas com a edição de “Pastoral” onde, dez anos depois do início, revela um domínio e uma elasticidade vocal invejável, um imaginário vincado, muito assente no património cultural pagão das Beiras e de Trás-os-Montes e não só, povoado por atmosferas eletrónicas e ideias soltas de psicadelismos assentes em estruturas com laivos de jazz ou pop, com linhas de baixo pulsantes e batimentos cardíacos eletrónicos a guiarem uma folia para a qual também contribui a produção de Hugo Correia. Sim, existem pontos de contacto com outras utopias, sensibilidades ambientais, e modos de operar reveladas nos últimos anos, como os Bandua, ou mais recentemente, Ana Lua Caiano ou Evaya, que lançou há dias outro magnífico álbum, ou Puçanga, numa perspetiva mais urbanizada, mas Emmy Curl objetivamente não está a chegar a lado algum. Mesmo que não tivesse já um percurso com anos, bastava ouvir “Pastoral” para se perceber que é o disco de alguém que se deu a si própria o tempo necessário para aprofundar uma linguagem própria e, agora, a exteriorizar de forma descomplexada, jovial e confiante. Há uns anos já não havia grandes dúvidas que um dos futuros da cultura portuguesa – está longe de ser apenas na música – iria ser a tradição em movimento, o “futuro ancestral”, diria com um sorriso solar Ailton Krenak, a partir da Amazónia, e os sinais vão-se acumulando
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